Trovadorismo - Cantigas de Amor, Amigo ,Escárnio e Maldizer
Trovadorismo
Podemos dizer que o trovadorismo
foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no século
XII, em plena Idade Média, período em que Portugal estava no processo de
formação nacional. O marco inicial do Trovadorismo é a “Cantiga da Ribeirinha”
(conhecida também como “Cantiga da Garvaia”), escrita por Paio Soares de
Taveirós no ano de 1189. Esta fase da literatura portuguesa vai até o ano de
1418, quando começa o Quinhentismo.
Classificação das cantigas:
1.Cantigas de amor: o trovador confessa, de maneira
dolorosa, a sua angústia, nascida do amor que não encontra receptividade. O
"eu lírico" desses poemas se revela, às vezes, na forma de um apelo
repetitivo, no qual não há erotismo, mas amor transcendente, idealizado.

Cantiga de amor de Pero Garcia Burgalês:
Ai eu coitad! E por que vi
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.
Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
Ca lho nego pola veer,
Pero nona posso veer!
Mais Deus, que mi a fezo veer,
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
Sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
Sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m].
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m].
Nem outre já, mentr’ eu o sem
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem;
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem;
Ca vedes que ouço dizer
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!
2. Cantigas
de amigo:
o trovador apresenta o outro lado da relação amorosa, isto é, assume um novo
"eu lírico": o da mulher que, humilde e ingênua, canta, por exemplo,
o desgosto de amar e, depois, ser abandonada; ou o da mulher que se apaixonou e
fala à natureza, e à si mesma ou a outros sobre a sua tristeza, seu ideal
amoroso ou, ainda, sobre os impedimentos de ver seu amado.
Cantiga
de amigo de Julião Bolseiro:
Mal me tragedes, ai filha,
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
porque quer ‘ aver amigo
e pois eu com vosso medo
non o ei, nen é comigo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Sabedes ca sen amigo
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
nunca foi molher viçosa,
e, porque mi-o non leixades
ver, mia filha fremosa,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Pois eu non ei meu amigo,
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
3. Cantigas de escárnio e de
maldizer: são poemas
satíricos. Nas de escárnio, ressaltam-se a ironia e o sarcasmo. Já as de
maldizer são agressivas, abertamente eróticas, a sátira é expressa de forma
direta, sem meias palavras, chegando a usar termos chulos. Escritas, às vezes,
pelos mesmos autores das cantigas de amor e de amigo, revelam um terceiro
"eu lírico", cuja licenciosidade se aproxima da vida das camadas
sociais mais populares.
Cantiga
de maldizer de Afonso Eanes de Coton:
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
Cantiga
de Maldizer de Joan Garcia de Guilhade:
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv'en [o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
que vos nunca louv'en [o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
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